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Seção Informativa



COMO O SOM É GERADO EM UM VIOLÃO?




Os componentes necessários para a geração do som em um instrumento musical são, basicamente, três: um vibrador, um excitador e um ressonador.
No violão, as cordas são os excitadores do tampo, que é, por sua vez, o vibrador. O fundo e os lados compõem a caixa acústica, que tem a função de dar sustentação ao tampo harmônico e amplificar e propagar a níveis audíveis as suas vibrações. Assim, as cordas são distendidas e, quando pulsadas, transferem para o tampo um determinado número de vibrações por segundo (Hz). O tampo vibra nesta mesma freqüência, fazendo c com que o ar se movimente dentro da caixa acústica. A boca tem como objetivo permitir a circulação de ar ali contido. Se não existisse nenhum orifício que permitisse esta circulação, o ar tenderia a comprimir-se, originando-se uma amortização, que impossibilitaria a vibração e não se produziria nenhum som.
A situação considerada ideal, mas praticamente impossível, seria a de que todas as vibrações das cordas fossem transferidas diretamente para o tampo harmônico, o que na prática não acontece, pois todos os componentes existentes no instrumento acabam absorvendo parte destas vibrações.
TAMPO HARMÔNICO

Durante muitos anos foram fabricados tampos de abeto e cedro de uma grande variedade de espécies, a procura do material definitivo para a construção do tampo harmônico. Há muitas escolas de pensamento sobre qual variedade de abeto é a melhor. Muitos construtores acreditam na variedade européia, conhecida como abeto alemão ou abeto da Bavária (Picea excelsa) e (Picea abies).
Devido aos vários séculos de colheita destas espécies, a disponibilidade dos melhores exemplares de abetos europeus foi severamente reduzida. Em vista disto, hoje é bastante raro encontrar tampos com boa qualidade, ao contrário dos abetos nativos da Colúmbia Britânica, que apresentam grande qualidade e alguma fartura.
Eu acredito que o construtor bem informado selecionará o tampo harmônico por suas características individuais, baseado mais nas qualidades inerentes da seleção individual, do que escolhendo um tampo harmônico somente por sua reputação. Afinal de contas, um tampo de abeto engelmann que exibe características excelentes vai, obviamente, ser superior a uma variedade européia com qualidades medíocres. De acordo com material utilizado, um bom construtor modificará densidades do tampo e a colocação da estrutura interna, para atingir o melhor resultado sonoro possível de cada instrumento.

A meu ver, o abeto é a madeira mais indicada para a construção do tampo harmônico, devido à sua alta relação de rigidez e densidade, situação muito vinculada com a maior velocidade de condução do som; assim, na direção longitudinal dos veios (fibras) obtém-se uma velocidade do som de 3.600 m/s e na direção transversal, 800 m/s. Disso, deduz-se que o veio oferece uma resistência à condução do som, por isto é desejável utilizar tampos cujos veios sejam muito estreitos.

A parte interna do tampo harmônico é formada, geralmente, por um conjunto da varinhas de madeira (em geral a mesma madeira do tampo) que podem ser diferenciadas em duas classes, quanto às funções. As colocadas transversalmente à fibra são estruturais e proporcionarão resistência à caixa de ressonância; as colocadas, aproximadamente, no sentido da fibra chamam-se leque harmônico e têm o objetivo de aumentar a massa do tampo, para conseguir, dentro do possível, que ele entre em ressonância com todas as freqüências que as cordas emitirão, ao vibrar.

Cada construtor usa uma estrutura peculiar, mas se observa que, em geral, o leque não aumenta a rigidez do tampo, pois esta não é sua função.
Seria desejável que o tampo harmônico tivesse uma freqüência de ressonância centrada entre a gama de freqüências que o violão emite, que vai de cerca de 80 a 1000 Hz, pois desta forma o tampo sintonizaria com toda a gama de freqüências, ordenadamente.
Eleger um tampo que corresponda às melhores condições é uma tarefa muito difícel, visto que não é um corpo que se adapte a formas geométricas puras e sua constituição não obedece a um produto fabricado com formulação matemática; por isto, é necessário apelar ao campo da experimentação. É sabido que um corpo obrigado a vibrar, com a mesma amplitude, não o faz em todas as suas zonas; inclusive, em algumas, não vibra, e sua amplitude é zero.
Se conseguíssemos, em ensaios, determinar a localização destes pontos de vibração zero, que se chamam nódulos, aproveitaríamos para colocar varetas que dariam maior resistência ao violão, justamente nestes pontos, sem afetar o som, reforçando-o, sem medo de prejudicar as vibrações do tampo. Poderíamos, também, ligar por meio de varetas, pontos de vibração nula com pontos vibrantes, tentando fazer com que o tampo vibrasse em todas as regiões.

IMPORTÂNCIA DA ANTIGÜIDADE DAS MADEIRAS


Em princípio, pode-se dizer que quanto mais antigo for um instrumento, melhor ficará, mas, de maneira alguma, podemos admitir que um mau instrumento se converta em bom, com o passar do tempo.
Esta crença deve-se ao seguinte: a madeira é muito higroscópica, isto é, tem grande facilidade para tomar o mesmo grau de umidade que exista no ambiente; da mesma forma, comporta-se com igual facilidade para devolver ao ambiente a umidade adquirida. Quando se corta uma árvore, inicia um processo de devolver ao ambiente toda a umidade que o tronco serrado tinha em vida. Todavia, quando chega a certo grau de secagem, já não devolve mais umidade ao ambiente, por mais que passe o tempo.
A madeira compõe-se de dois estados da celulose: um, amorfo (adj. 1. Sem forma definida; informe. 2. Quím. Aplica-se às substâncias não cristalizadas. 3. Miner. Sem estrutura cristalina.), que absorve ou devolve água; e outro cristalino, que não admite umidade alguma. Quando o tronco é cortado, quase toda sua massa é celulose amorfa e com o decorrer do tempo, esta massa vai-se convertendo em estado cristalino. Logicamente, uma madeira antiga deve ter grande parte de sua massa em estado cristalino, que é refratária à umidade ambiente, pois diminui sua elasticidade, aumenta a rigidez e vibra com maior amplitude.

PROBLEMAS COM AFINAÇÃO

O violão é um instrumento que possui incorreções naturais em sua afinação.
Pode-se analisar alguns fatores que explicarão as razões por que isso acontece.
(...) Um violão clássico é composto, normalmente, por seis cordas distendidas sobre uma escala previamente estabelecida; são presas em dois extremos, nas tarraxas colocadas na palma e no cavalete, este colado sobre o tampo. Em termos práticos, para determinar o comprimento de escala do violão, deve-se considerar como origem da corda a pestana e como término o rastilho.
A pestana _ normalmente feita de osso _ é colocada logo no início da escala, junto à palma, como se fora o primeiro traste (traste zero) e define o distanciamento das cordas entre si, neste ponto.
O rastilho, feito do mesmo material da pestana, é colocado junto ao cavalete, sobre o tampo, e regula o distanciamento (ação) das cordas sobre a escala.
A partir da distância entre a pestana e o rastilho determina-se a colocação dos trastes. Teoricamente, quanto maior for essa distância, maior será a tensão das cordas ao serem afinadas e maior será, conseqüentemente, o afastamento dos trastes.
O violão, como todo instrumento temperado, possui incorreções de afinação, devido ao fato de possuir trastes fixos, subdividindo os pontos de vibração da corda. Além disso, existe o problema da “ação” das cordas sobre a escala, pois, ao serem pressionadas para alcançar o traste, elas são “esticadas” alterando, assim, a afinação do instrumento.
Em um violão clássico, a ação das cordas sobre o 12o traste é, em média, 4mm. A fim de minimizar as alterações na afinação, devido ao percurso que a corda descreve até atingir os trastes, é comum utilizar-se uma pequena correção na colagem do cavalete, aumentando cerca de 1mm o comprimento da primeira corda e 2mm da sexta, fazendo com que o rastilho fique inclinado, em razão da diferença de espessura das cordas. (...)
(...) TESTE SIMPLES PARA AVERIGUAR A QUALIDADE DA AFINAÇÃO

Deve-se afinar as cordas soltas; logo após tocar, uma a uma, a 8a da corda solta, na mesma corda em harmônico. Ex.: 6a corda solta = MI; 6a corda sobre o 12o traste Mi 8a acima.
A nota tocada em harmônico será uma oitava perfeitamente afinada. No entanto, ao pressionar esta corda sobre o 12o traste, nem sempre se tem uma afinação perfeita. O erro mais freqüente é a nota ferida soar mais alto do que deveria, pelo estiramento da corda para chegar ao traste. Existem duas maneiras para corrigir este problema:
O primeiro, normalmente o correto, é aumentar a distância do rastilho em relação ao 12o traste.
O segundo somente será possível se a ação das cordas estiver muito alta, pois assim pode-se diminuir a altura do rastilho, minimizando a distância que a corda deve percorrer para chegar ao traste. Com uma ação menor a corda tende a apresentar uma alteração menor de afinação.
Se, ao ferir uma corda num determinado ponto da escala, a nota soar mais baixo que a nota harmônica, deve-se fazer o processo inverso do mencionado anteriormente.
É sempre bom lembrar que o violão é um instrumento de afinação imperfeita, porém, é possível minimizar os problemas de afinação a ponto de serem quase imperceptíveis, mesmo para os ouvidos mais aguçados.
As cordas são um elemento fundamental para a qualidade de som e afinação de um violão. A utilização de cordas por um tempo muito prolongado (tempo que varia de acordo com a qualidade das mesmas) prejudica a qualidade de som do instrumento, assim como a utilização de cordas não recomendadas pelo fabricante. (...)
(...) Para concluir, pode-se afirmar que somente haverá um violão com afinação perfeita quando todos os trastes fixos que delimitam os pontos de vibração das cordas forem removidos, deixando a afinação das notas a cargo do violonista, como acontece com a família de instrumentos de arco. Esta situação abalaria toda a técnica violonística adquirida até hoje, o que provavelmente nos fará continuar convivendo com estas pequenas desafinações.

(Excerto do artigo publicado na Revista Assovio “Violão_Este persistente desafinado”, por Eduardo Cordeiro.)


INFORMAÇÕES BOTÂNICAS


Seiva. - Líquido que as raízes absorvem da terra e que serve para a nutrição do vegetal a que pertencem. A seiva circula nos tecidos das plantas. Há duas espécies de seiva: a ascendente ou bruta, e a descendente ou elaborada. Esta é que alimenta o vegetal.
Fibras. - São filamentos que se encontram em todos os vegetais, dispostos de diversas maneiras, constituindo as partes lenhosas.
Crescimento das plantas. - As camadas de lenho desenvolvem-se durante cada período de vegetação da planta, que começa na Primavera e termina no Outono. No período de Inverno e Primavera a madeira é fraca e macia, devido à baixa atividade metabólica da árvore; no Verão e Outono, pelo contrário, é consistente e dura, pois a árvore atinge seu maior período de atividade metabólica. O número de camadas de crescimento (anéis de crescimento), concêntricas, vistas na secção transversal e separadas por um evidente contraste, que fica estabelecido entre as duas formações, correspondente ao lenho produzido, aparentemente, durante cada período de crescimento, o que permite determinar a idade de uma árvore. As camadas internas constituem o cerne, e as periféricas, o alburno.
Nem todas as espécies de plantas têm igual crescimento. As que pertencem à grande família das dicotiledôneas (que têm dois cotilédones, isto é, duas folhas preexistentes nos grãos antes da germinação), possuem crescimento externo, ou seja, na parte que fica pouco abaixo da casca. Estas plantas são de cerne duro e alburno mole.
As espécies da família das monocotiledôneas (coqueiros, palmeiras, dragoeiro, cana da Índia, bambu, etc.), têm crescimento interno, razão por que a parte de fora é dura e a de dentro mole.

COMPOSIÇÃO DO TRONCO (lenho)

A composição botânica do tronco, de fora para dentro, é a que segue:
Casca ou córtice. - É o invólucro externo dos caules das plantas, as camadas corticais. Protege-as contra as intempéries e os insetos.
Líber ou floema.- É a entrecasca, a parte mais interna da casca das árvores e o principal tecido de condução das substâncias nutritivas nas plantas vasculares.
Alburno. - É a camada externa do tronco, situada entre o cerne e a casca das árvores, composta de elementos celulares ativos e caracterizada por ter geralmente coloração clara.
Cerne. - É a parte interna do tronco das árvores, envolvida pelo alburno, geralmente caracterizada por coloração mais escura que este e por ser constituída de elementos celulares já sem atividade vegetativa. Anualmente, o líber se transforma em alburno e este em cerne
Medula. - É a parte mais central da planta. A medula é ocupada pelo parênquima - tecido frouxo, normalmente mais claro que a parte fibrosa do lenho, por ser constituído por células curtas, iguais, de paredes finas.
NOÇÕES DE FITOGEOGRAFIA

A fitogeografia objetiva estudar as características e as condições da vida vegetal, na superfície da Terra.
O elemento de maior necessidade à vida vegetal é a água, que a planta absorve e perde pela transpiração.
Nos lugares em que a água é rara ou inassimilável (a água muito fria ou carregada de sais é inassimilável), os vegetais armazenam, por ocasião das chuvas, a quantidade de água necessária para o período em que ela falta. Para isso, as folhas e as raízes sofrem modificações, de modo a transpirarem menos e a absorverem mais; as folhas, que são órgãos da transpiração, são atrofiadas, ou mesmo, dasaparecem; e as raízes, que são órgãos e absorção, desenvolvem-se extraordinariamente.
Nos lugares em que a água é abundante, dá-se o contrário: as folhas são desenvolvidas e as raízes atrofiadas, a fim de aumentar a transpiração e diminuir a absorção.
As plantas, no primeiro caso, têm estrutura xerófila (apreciam secas) e, no segundo, higrófila (apreciam umidade).
Em locais em que a água é rara numa parte do ano e abundante noutra, as plantas têm caracteres variados, sendo xerófilas, numa época, e higrófilas noutra. Esses vegetais são de estrutura tropófila.
A natureza do solo dá lugar a que se distingam as plantas calcículas (que preferem o solo calcário), as plantas silicículas (que vivem no solo silicoso), as plantas halófilas (que se encontram nos terrenos ricos de sal marinho).
Época do corte. - Para minimizar o ataque de parasitas, a árvore deve ser cortada nas luas minguantes e no inverno, tempo em que a linfa (humor aquoso que circula nas plantas) está no interior da planta. Lavradores antigos, baseados em seus conhecimentos empíricos, afirmam que para a madeira não carunchar, a árvore deve ser derrubada nos meses que não têm "r" (obviamente, isto serviria para o nosso continente).
Para evitar que a madeira fermente e carunche, devido à umidade ambiente, convém que seja retirada da mata logo após o corte. Uma vez fora da mata, deve ser conservada ao abrigo dos raios solares, sob os quais se fenderia pela secagem demasiado rápida da parte externa.


Secagem da madeira. - A melhor secagem natural da madeira é a que se consegue mantendo-a em alpendres bem arejados, distantes dos raios solares.
Exsicação artificial. - A madeira seca rapidamente fazendo-a ferver, o que, porém, a enfraquece significativamente.
Mais prejudicial ainda é a secagem, um tanto violenta, em estufa seca. A madeira secada por este meio perde quase toda a resistência.
Outro tratamento, é o que consiste na imersão da madeira em banho quente de sulfato de cobre a 1,5%, à temperatura de 70oC. A imersão em água quente deve durar de quatro a seis horas. Findo este tempo, a madeira é retirada para deixá-la secar lentamente.
A mais rápida exsicação, relativamente pouco prejudicial, é feita pela flutuação das toras descascadas. Em pouco tempo, a água substitui a seiva e a secagem faz-se rapidamente ao ar livre, depois de retiradas as toras da água.
A imersão em água fria deveria ser feita logo após o corte, pelo espaço de um mês a dois anos.
Os madereiros europeus faziam flutuar as madeiras no mar, para torná-las incorruptíveis.
Atualmente existem muitos aparelhos que medem o grau de umidade das madeiras, mas pelo som, peso, cheiro e cor, os bons conhecedores sabem determinar o estado de cada espécie cortada; se está seca ou verde.
A madeira, quando verde, é muito pesada, graças à elevada percentagem de umidade que contém. Ao ser percutida produz um som pouco intenso, grave ou "mudo". Sua cor e cheiro característicos apresentam-se alterados.
Quando seca, pelo contrário, a madeira é leve e sonora, tendo a cor e o cheiro próprios de sua espécie ou variedade.
A madeira, ao ser cortada, contém cerca de 50% de umidade. A 30% começa a se contrair e, a cerca de 10%, é o limite de secagem ao ar livre em clima temperado.

O apodrecimento da madeira. - A madeira altera-se naturalmente pela oxidação lenta, absorvendo o oxigênio do ar e, acidentalmente, quando atacada por carunchos, fungos, etc.

A madeira mais leve já catalogada, é a chamada anona palustria do Brasil, que pesa menos do que a cortiça e o miolo do sabugueiro, cuja densidade é de 76 kg para cada metro cúbico. As madeiras mais pesadas são a casca de ferro da Austrália, que pesa 1.500 Kg/m3 e o guáiaco, da região tropical da América, que pesa 1.333 Kg/m3.






















CORAZÓN DE JACARANDÁ

Ao amigo Eduardo Cordeiro, Frederico Viana

Tus ojos tienen color de ébano,
Tus manos dan vida a los maderos.
En tus palabras la verdad del cedro,
En tu taller la amistad es un lucero.

Cuando abraza a los amigos
La caja de su pecho es vibración…
Y quien recibe ese abrazo tierno
Siente la nobleza de su corazón.

¡Viejo luthier!
Moldas madera,
Y entre polvo y sudor
Amargas las penas.
¡Viejo rutier!
De Jacarandá es tu corazón.

En las guitarras que has construido
Tu alma se pone desnuda…
Hay un dolor en cada nota herida
Que por otras manos suenan, penas tuyas.

Te has encorvado hecho un árbol viejo.
Te castiga el tiempo pero sigues fuerte…
Es que comprendes que por tu oficio
Llega vida donde había muerte.

¡Viejo luthier!
Moldas madera,
Y entre polvo y sudor
Amargas las penas.
¡Viejo lucther!
De Jacarandá es tu corazón.